Você tem um grande envolvimento com tecnologia de produção e automação. Na sua opinião, qual o verdadeiro significado da tão discutida „Indústria 4.0“?
Nesse meio tempo, nós falamos principalmente sobre a „transformação digital“ em um primeiro plano, pois esse é um processo pelo qual nós devemos passar. Atualmente, nós temos novas possibilidades de conexão e comunicação, que vão além da internet. Está surgindo um sistema ciberfísico, que possui uma parte física e uma virtual, que se misturam em tempo real. Um exemplo são os smartphones: sem uma app store, plataforma em nuvem no plano de fundo e sem conectividade, ele é inútil. Por outro lado, o smartphone não tem valor sem um sistema de sensores, sem uma interface do usuário com reconhecimento de voz e uma tela sensível ao toque. Quando nós combinamos tudo isso, é criado um novo sistema completo, que também possibilita novos modelos de negócios. Quando transferimos essa lógica para a indústria, é possível imaginar o efeito da Indústria 4.0.
Em geral, como você vê a transformação das empresas para a Indústria 4.0?
No começo de 2010, a maioria das empresas estava cética sobre a relevância da Indústria 4.0 em geral. Então, muitos começaram a criar cenários de aplicação para feiras, que estavam voltadas, principalmente, para o marketing. Hoje, nós vemos cada vez mais empresas orientadas para o usuário, pensando e fazendo perguntas sobre o tema: como posso diminuir meus custos e aumentar minha velocidade? As empresas também integraram a possibilidade do aumento da digitalização em suas próprias estratégias de negócio.
Onde você posiciona a indústria automobilística?
A indústria automobilística atingiu um sucesso tão grande com o antigo modelo de negócio que, em primeiro momento, reagiu muito devagar às possibilidades das novas tecnologias. Nos últimos dois anos, os fabricantes e também os grandes fornecedores se tornaram ativos, e finalmente deram os primeiros passos no mundo digital. As corporações investiram bilhões em novos serviços. Isso nos dá a certeza de que nos próximos 5 anos nós veremos mudanças massivas.
Quais mudanças você espera na produção automobilística nos próximos anos?
Nós encontramos duas tendências opostas na produção. Uma são os serviços de mobilidade nas cidades com veículos elétricos e, no futuro, autônomos. Aqui, na minha opinião, devido aos custos, isso inicialmente levará a uma padronização do hardware. Quando você entrar em um táxi autônomo, provavelmente não se importará com a cor dele. Como passageiro, você quer ter conforto e, talvez, pode querer trabalhar. A decoração do interior e os serviços oferecidos também terão um papel importante. Entretanto, a estrutura física vai em direção aos veículos padronizados. Por outro lado, temos uma forte tendência de personalização. Porque se esse é o seu próprio veículo, então, você quer que ele seja projetado para você. Esses dois desenvolvimentos opostos provavelmente farão com que os layouts das fábricas sejam muito diferentes.
Grande parte dessas fábricas funcionará sem pessoas, como é dito na mídia?
Em todos os lugares, quando a flexibilidade é questionada nas fábricas de produtos altamente personalizados, robôs e automação atingem seus limites. Aqui, as pessoas ainda desempenharão um grande papel. Isso é importante, porque não é possível antecipar totalmente as necessidades de capacidade e competência de uma fábrica. Além disso, é preciso reagir de forma flexível a novas versões e números de peças variáveis. Um robô não poderá oferecer isso sozinho.
Mas, tudo que pode ser implementado de forma padronizada e com custo reduzido deve ser assumido pelas máquinas. No entanto, a formação ativa do sistema deve ser assumida por pessoas. Portanto, nos próximos dez anos eu acredito que não veremos fábricas sem pessoas, onde apenas máquinas trabalham. As tarefas que as pessoas desempenham dentro da fábrica são muito diferentes. As pessoas serão principalmente os orquestradores, os designers do sistema e os otimizadores. É necessário criatividade, mas também capacidade para poder se ajustar de forma flexível a novas situações e aprender com elas de forma rápida. Isso é algo que as pessoas fazem bem, muito melhor do que as máquinas.
Prof. Thomas Bauernhansl
é, desde setembro de 2011, Diretor do Instituto Fraunhofer de Tecnologia de Produção e Automação e Diretor do Instituto para produção e processamento industrial da Universidade de Stuttgart.
O especialista da Indústria 4.0 é membro do conselho estratégico da plataforma da Indústria 4.0 do governo alemão. Bauernhansl é autor e editor de diversos livros sobre a adaptabilidade na produção, o gerenciamento da produção e a Indústria 4.0, entre outros.